Trabalhos Acadêmicos não “dão” em Árvores: Em Defesa da Honestidade Intelectual

Captura de Tela 2013-03-14 às 20.50.00A NOTÁVEL revolução que a internet vem provocando em todos os setores da vida humana está criando um ambiente no qual uma espécie até então bastante restrita a poucos indivíduos está crescendo significativamente. Trata-se de uma espécie copiadora ou plagiadora de textos e ideias alheias. Essa espécie parece voltar milhares de anos em nossa evolução, deixando de ser produtora para ser coletora. Ela vem se especializando na “coleta” de trabalhos universitários, artigos, livros e resultados de pesquisas feitos por outros. Supondo que textos e ideias “dão” em árvores plantadas em áreas isentas de direitos autorais e de honestidade intelectual, os copiadores e plagiadores atuam cada vez mais desavergonhadamente, postulando para si a imagem de “sabidos”, “espertos”, enfim, daqueles que sabem lidar de maneira realmente inteligente com as situações em que certas tarefas que demandam esforço e originalidade intelectuais são exigidas. Burlando regras, ludibriando e trapaceando os colegas, seus “concorrentes” na luta pela vida, essa espécie se considera a mais bem adaptada ao ambiente competitivo do mundo contemporâneo. Sua habilidade maior não é o conhecimento adquirido e demonstrado, mas sim a tapeação. Forja sua trajetória enganando aqui e ali, e muitas vezes, de fato, é bem sucedida, fazendo prevalecer a injustiça de ficar à frente daqueles que são honestos e que, por isso, não atingiram as mesmas notas nas avaliações de desempenho que os desonestos conseguiram trapaceando.

Com efeito, a internet, cujos ganhos para a civilização realmente são diversos e inquestionáveis, por outro lado, é um meio ambiente altamente estimulante para a proliferação e sobrevivência dessa espécie. Há textos de toda a natureza ao alcance de um clique. Inclusive, há sites que, descaradamente, apresentam-se com o propósito de servir de “banco” de trabalhos prontos para que indivíduos dessa espécie possam copiar e plagiar à vontade – seus neurônios, portanto, são mobilizados apenas para digitar o control-c/control-v. Se nada for feito, essa espécie tende a crescer cada vez mais e a tomar o lugar dos honestos. Sem a devida conferência de abusos e desrespeito desse tipo e a devida punição, estaremos oferecendo o habitat perfeito para a prevalência dos “coletores” de trabalhos e ideias alheios.

Que espécie prevalecerá? Honestos ou desonestos? Esses “coletores” ou os realmente criativos e esforçados? Os copiadores e plagiadores ou os autores reais de seus trabalhos? Isso dependerá de um compromisso moral de todos e da criação de um ambiente em que esses desvios não sejam tolerados, de modo a não se converterem em algo “normal”. Se essa prática não encontrar qualquer obstáculo, corremos o risco de presenciar a trágica transformação desse desvio da honestidade intelectual em algo tão recorrente que será a “nova moral”. Sendo o “normal”, teremos, não obstante, uma “moral normal” que poderíamos chamar de “patológica”, pois solaparia os princípios básicas da coesão da comunidade acadêmica.

Captura de Tela 2013-03-14 às 20.52.27Em alguns países da Europa e nos Estados Unidos, as universidades já têm seus códigos de ética que regulamentam esse capítulo da honestidade intelectual, prevendo severas punições a quem incorre na prática da cópia ou do plágio. Inclusive, cada vez mais se fazem leis, as quais visam resguardar os direitos autorais, que prevêem punição jurídica para essa prática considerada criminosa. No Brasil, a cópia e o plágio já são crimes passíveis de punição legal; e alegar o desconhecimento da lei não impede sua aplicação, uma vez que esta é pública. No entanto, as universidades brasileiras ainda não atentaram para esse fenômeno crescente e, até agora, não investiram muito em mecanismos institucionais e permanentes de acompanhamento e avaliação dessas práticas. Certamente, num futuro breve, nossas universidades disporão de regulamentos e instâncias permanentes destinados a coibir esse tipo de comportamento. Enquanto isso, além da punição legal, resta-nos a possibilidade da formação de um comprometimento moral em prol da honestidade intelectual. Vamos investir nela, cada um de nós, e garantir a sobrevivência da espécie que prima pelo próprio esforço, pela dedicação e pelo talento original.

Obviamente, há casos em que cópias e plágios podem ocorrer por algum tipo de desconhecimento do que é que caracteriza cada uma dessas coisas. Então, informe-se. Para isso, acesso no link abaixo uma cartilha que traz explicações detalhadas sobre isso. Trata-se de uma louvável iniciativa da Comissão de Avaliação de Casos de Autoria, do Departamento de Comunicação Social, da Universidade Federal Fluminense. Confira atentamente.

Clique para acessar o Cartilha-sobre-plagio-academico.pdf